quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Cine Bomba - Muita Calma Nessa Hora


Dicas periódicas do que NÃO ASSISTIR quando for à locadora!

Recentemente perdi preciosos 40 minutos da minha vida assistindo uma produção realmente insuportável. Os 20 primeiros minutos foram surpreendentemente cansativos e os outros 20 que se seguiram foram o que eu chamo eventualmente de “dar uma chance para o filme”, que é quando ele começa mal mas você se mantém ali, na frente da tela, esperançoso de que alguma reviravolta o faça ficar bom (de vez em nunca isso acontece mesmo).

Bem, nem com mil chances essa porcaria de filme tosco que não vale a mídia em que vem gravado poderia ter virado em algo bom.

E pra quem pensa que só falo mal de filme ruim estrangeiro, como se fosse de caso pensado, o título de hoje do Cine Bomba (infelizmente) é uma produção nacional.

Estou falando da salada de esterco velho:




Ficha Técnica

Título Original: Muita Calma Nessa Hora

País de Origem: Brasil

Gênero: Comédia (pastelão, tipo “besteirol americano”)

Duração:1h 32 min

Ano de lançamento: 2010

Direção: Felipe Joffily


Resumo (com muitos spoilers, pra ninguém ver):

Peguei esta comédia na locadora já com um pé atrás, devido ao nome remeter à um tipo de senso de humor pelo qual não nutro sequer uma gota de respeito, que é aquele que podemos observar em programas de TV como “Zorra Total”, “Turma do Didi”, “A Praça é Nossa” (esse último apenas nos últimos anos, porque até o início dos anos 90 ainda era possível rir com seus quadros) e alguns espetáculos de stand up que não ouso sequer fazer referência para não dar mídia pra gente oportunista. Pode parecer excessivamente preconceituoso da minha parte, e de de fato o é, mas esse tipo de linguajar - ”muita calma nessa hora” - com intenção de ser engraçado, remete minha mente à um tipo de pessoa que considero bastante monótona, pra não dizer coisa pior.

Enfim, o que me motivou a conferir essa produção foi a presença de humoristas talentosíssimos, como o multi-tarefa Marcelo Adnet, o convincente Lúcio Mauro Filho (o “Tuco”, de “A Grande Familia”), o ácido Marcelo Tas (o “Professor Tibúrcio” do CQC), o fantástico quinteto formado por Marco Antônio Alves, Fausto Fanti, Adriano Pereira, Bruno Sutter e Felipe Torres (popular e carinhosamente conhecidos como “os caras do Hermes e Renato”) e até um dos mestres sagrados da cultura trash oitentista no Brasil, ninguém menos do que Serginho Malandro, na composição no elenco.

Agora me diga, caro leitor, que com um time desses, esse filme tinha alguma chance de não ser engraçado?

Pois é, eu pensei a mesma coisa. Mas infelizmente o potencial que poderia ser explorado foi absolutamente negligenciado. Até, vale dizer pra você que ficou animado com o elenco também e pode não acreditar que algo com essa trupe pode ser ruim, a maioria desses artistas que eu esperava ver atuando ao seu estilo, faz meras pontinhas sem nenhuma importância, e contidos como nunca antes na história desse país.

Essa porcaria de filme nada mais é do que outra obra nacional composta totalmente de clichês, e eu disse TOTALMENTE mesmo, já que a criatividade é inferior a zero em cada segundo do filme.

É clara a intenção dos realizadores de fazerem uma possível fusão de filmes como “American Pie” e “Bridget Jones's Diary”, onde podemos ver a forma mais plena do senso de humor norte-americano.

Não tenho absolutamente nada contra o senso de humor norte-americano, muito pelo contrário, já me diverti muito com dezenas de produções desse gênero. Minha crítica não se dirige à eles, mas sim à tentativa mais do que frustrada de cineastas tupiniquins de tentarem imita-los gastando uma quantidade interessante de dinheiro.

Logo nos primeiros minutos, vê-se algumas imagens muito mal escolhidas da belíssima cidade de Búzios, onde já pude identificar o desastre que viria pela frente. Então vemos a artificial Ellen Roche protagonizando uma desnecessária (já que não combina em nada com o resto do filme) ceninha bem tosca que remete às pornochanchadas do passado do nosso cinema. Uma clara referência à qual a real utilidade dessas moças siliconadas de cabeça vazia para o cinema.

A trama é batida demais até para uma babaca tentativa de comédia americana: três garotas com problemas em lidar com a própria volúpia saem de férias juntas, dispostas serem o mais promíscuas que conseguirem.

As personagens principais são Tita (Andréia Horta), uma moça jovem que estava prestes a se casar e testemunhou uma traição do noivo (na ceninha sem-vergonha com a Ellen Roche) e resolveu se vingar do mundo transando com o maior número de homens que conseguir (a casa de praia pra onde ela e as amigas vão em “férias”, tinha sida alugada originalmente em função do seu casamento), Mari (Gianne Albertoni), uma loira gostosona que dá impressão de ter um cargo importante em uma empresa grande, trata as pessoas com arrogância, sobretudo homens, no melhor estilo “eu sou fodona”, e desde os primeiros minutos já mostra que será o núcleo principal das piadinhas sem manjadas e sem graça (exemplo: sentada com as amigas na mesa do bar: “garçom, traga mais três tequilas e três cervejas, não vai perguntar o que elas querem?” assim mesmo, com vírgula, porque disse tudo na mesma sentença). No começo do filme ela se sai bem de uma situação de assédio sexual com um chefe tarado, uma cena feita especialmente pra uma tentativa de que se crie um ar de independência e força ao redor da personagem. Tentativa essa que falha miseravelmente no desenrolar dos próximo longos 20 minutos seguintes, Aninha (Milli, ops, quer dizer, Fernanda Souza), uma moça engraçadinha, mas totalmente sem sal, que passa o tempo todo querendo dar pra alguém mas não consegue por ser muito monga. Aliás, muito monga mesmo, bem daquele tipinho de menina burrinha que só faz bobagem e a Estrella (Débora Lamm), que é uma moça errante que encontram no caminho para o litoral, que tem ar daquelas hipongas sujinhas vendedoras de artesanato barato e parece estar o tempo todo drogada. Ou pelo menos tentando parecer que está, já que a interpretação dela é nível “Malhação” pra pior.

Depois do protocolo manjado de apresentação de cada uma, o filme começa e fica do mesmo jeito pra sempre: formado por quadros sortidos e absolutamente sem graça com diversos comediantes conhecidos, ao estilo “Zorra Total” mesmo. Os quadros são intercalados por cenas ridículas e forçadas das quatro desocupadas sentadas em uma mureta falando fezes enquanto fumam maconha, agindo como uma pessoa que nunca nem ao menos viu uma pessoa sob efeito de maconha, e muito menos sabe imitar o estado.

E isso é o filme todo.

Os personagens são ocos e descartáveis. Nenhum deles, nem mesmo as personagens principais, são explorados ou aprofundados de forma alguma. E os quadros claramente não foram feitos pelos próprios artistas, ou pelo menos não tiveram total liberdade para criarem. Dada a total imbecilidade, burrice e superficialidade das piadas.

Durante os 40 minutos que consegui estar na frente da TV assistido a essa tranqueira, a sensações oscilaram entre irritação, tédio e muita vergonha alheia.

Com certeza, até o dia de hoje, esse é o pior filme que assisti esse ano. Sem a menor sombra de dúvida.

Espero que as pessoas talentosas de verdade que participaram desse lixo que me fez perder 40 minutos de um precioso tempo que nunca vou recuperar, pelo menos tenham ganhado uma boa grana com isso, já que sabemos bem o quanto é difícil sobreviver de um genuíno talento artístico no Brasil. E embora o filme que participaram seja um balde de estrume, seus trabalhos fora dali são muito bons e de uma forma ou de outra merecem lucrar bem com o que fazem. Ou pelo menos mereceriam.

Mas seja como for, não percam seu tempo com essa porcaria. A não ser que você goste de produções feitas para pessoas muito burras e muito limitadas, rirem.

Top Eleven - Filmes Perturbadores



A cada dia que passa a internet está mais cheia de listas. 

É lista dos mais ricos, lista dos mais doidos, dos mais retweetados, dos menos assistidos, dos mais listados... enfim, lista de tudo que é coisa.

Admito que sou um grande consumidor desse “produto” que é fabricado com base quase sempre exclusivamente tendo como critério a opinião de quem escreve (há listas feitas através de pesquisas quantitativas também, mas essas não tem muita graça).

Eu me interesso bastante pela opinião das pessoas, seja a pessoa que for, dando a opinião que for sobre o assunto que for. Talvez seja por procurar me identificar no que é dito, ou poderia ser por mera curiosidade, ou ainda pelas exigências no exercício do meu trabalho. O motivo, a meu ver não importa muito.

O fato é que eu desenvolvi essa peculiaridade de querer saber o que as pessoas tem a dizer sobre tudo, e, tenho internamente, por assim dizer, uma verdadeira mania de formular uma opinião crítica sobre tudo que chega a mim.

Então no dia de hoje, me darei ao luxo de ser um pouco presunçoso e publicarei a minha primeira lista. Para que seja apreciada e avaliada por todos.

E para começar, como o cinéfilo assumido que sou, gostaria de listar um “Top Eleven” (porque 11 filmes são melhores do que 10) sobre cinema. 

Embora eu seja nada além de um admirador desta forma de arte, ou seja, não tenha conhecimentos técnicos específicos sobre o assunto, a paixão que tenho me faz sentir seguro o suficiente para me manter firme na opinião que apresentarei.

 E o critério que escolhi hoje é bem peculiar: será o elemento perturbador de algumas obras cinematográficas. 

Isso mesmo. Sabe aquele filme que mexe com você de uma forma muito estranha, e depois que ele acaba continua na sua cabeça repetindo aquela cena insistente que fez você sentir algo que você não sabe dizer ao certo o que é? Pois é, esses são filmes que eu chamo de “perturbadores”. Aqueles que causam sensações viscerais em quem assiste.

Penso que, seja por uma curiosidade mórbida pelo bizarro ou, por puro mau gosto mesmo, muitas pessoas compartilham comigo de um interesse por produções chocantes e que tragam tensão e espanto de uma forma indigesta para os telespectadores. E hoje é para essas pessoas que estou escrevendo. 

Além deste tema estranho, eu utilizarei outros três critérios na construção desta lista, a saber: 


1) não incluirei produções que se enquadrem como “Splatter” “Gore” e “Trash”, pelo fato desse tipo de trabalho ter naturalmente uma intenção sarcástica e só ser chocante aos olhos de pessoas que não conseguem ver o humor intrínseco em seu contexto, ou que não estão acostumadas com esse tipo de trabalho. 

2) não estão inclusos produções do gênero “Snuff”, em primeiro lugar por não ser um material que mereça atenção nem incentivo (só há quem produz porque há quem consuma) e em segundo lugar porque esse tipo de material em grande parte é de origem criminosa, e este bloqueiro aqui é o primeiro a denunciar qualquer tipo de abuso tanto na internet quanto no mundo real. 

3) E por  fim, o último critério para composição da lista é a cronologia. A lista começará no filme mais antigo e terminará com o mais recente, não havendo uma “escala” entre eles de qual é o mais ou o menos perturbador.



Bueno, sem mais delongas, segue abaixo a minha lista particular dos 





Os 11 Filmes mais perturbadores da história do cinema:






Freaks - 1932


Um verdadeiro clássico do cinema no-sense de antigamente. Diz a lenda que após o  sucesso de Frankenstein (1931), Irving Thalberg teria  pedido ao roteirista Willis Goldbeck que fizesse "qualquer coisa mais horrível que Frankenstein".  O resultado teria sido o roteiro de “Freaks”.

A história por si só já era bastante estranha: Uma trapezista bonita resolve se casar por interesse com o anão do circo que era herdeiro de uma grande fortuna.

Mas o que põe esse filme nesta lista, é o fato dele se tratar de uma versão cinematográfica de um tipo de espetáculo incrivelmente popular no passado que hoje é simplesmente inaceitável: os chamados “Freak Shows” ou “Show dos Horrores”, onde uma espécie de “circos” andavam pelo mundo expondo pessoas deformadas por doenças, amputados, vítimas síndromes bizarras e deficientes mentais como se fossem animais, em jaulas onde eram observados com fins de entretenimento.

Ou seja, os personagens do filme Freaks, são pessoas com deficiências de verdade, e interpretam ali, de uma certa forma, os papéis deles mesmos no filme!

Simplesmente grotesco.

A cena em que eles cantam "We accept you, one of us!" é simplesmente indescritível.

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Pink Flamingos - 1972

Horroso. Essa é sem dúvida a palavra que melhor descreve esse filme. É um pavor só, do início ao fim. 

Escatológico num nível muito acima do tolerável, o filme relata uma história absurda e sem pé nem cabeça que envolve uma drag-queen gordona que mora em um trailer com uma família pra lá de estranha e “luta” contra um casal de traficantes de drogas que engravidam mulheres em cativeiro para vender seus filhos à casais de lésbicas. E o pior é que isso tudo não é NADA perto do absurdo que é o filme todo.

Cenas de sexo bizarrésimas, muita nudez (com direito a exame proctológico de um dos atores e tudo), zoofilia (uma galinha foi morta de verdade em uma das cenas), canibalismo, tortura, coprofagia (nem queira saber o que isso significa) são alguns dos ingredientes desta obra que tem longos diálogos completamente doentios, repetitivos e chatos pra caramba.


As cenas e a trilha sonora são terrivelmente maçantes e cansativas. Acredito que o idealizador dessa “pérola”, o escritor e diretor John Waters, tinha a intenção de fazer algo completamente insuportável para o cinema. E eu suspeito que tenha conseguido.

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Saló, o le 120 giornate di Sodoma – 1975

Então você já conhecia o “Pink Flamingos” antes de ler esta lista e tava se achando “uma autoridade” em termos de filmes perturbadores e podrões?

Bem, nada mal para um Padawan da bizarrice... 

Saló é um filme tão doentio, tão absurdamente terrível, que nos faz pensar primeiramente como alguém pôde pensar nos elementos que compõe o seu roteiro.

Sério mesmo. Uma coisa é você incluir cenas em que a câmera faz exames clínicos nos genitais dos atores, e mostrar cenas de coprofagia. Qualquer pessoa que se interessa por produções estranhas é capaz de pensar nesse tipo de coisa quando interrogada sobre algo que chocaria a platéia.

Outra coisa completamente diferente é você dar um roteiro realmente coerente ao filme, baseando-se nesse tipo de apelo e adicionando crueldade em níveis insuportáveis. 

O roteiro de Pink Flamingos é uma “farra” sem pé nem cabeça, um verdadeiro pastelão. Mas o italiano Saló não. Esse filme eleva o debate sobre as perversões sexuais para um outro nível.

O diretor Pier Paolo Pasolini diz que buscou inspiração no livro “120 dias de sodomia” do lendário Marquês de Sade para produzir essa obra. Mas o que parece é foi inspirada pelo próprio capeta, isso sim.

A história trata de um grupo de fascistas (e um cardeal) que se isolam num castelo na república de Saló para praticar impiedosas orgias, humilhações, torturas e execuções à um grupo de jovens (idades aparentando de 14 à 17 anos) de ambos os sexos.

Pasolini fez outras “coisas” assim em sua carreira, mas nenhuma delas é como esse filme. Definitivamente se você se arriscar a assistir, jamais esquecerá dele.

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Mais ne nous delivrez pas du mal - 1976


Essa obra francesa retrata um tema que o cinema explora a um certo tempo em filmes como “Heavenly Creatures” (no Brasil lançado como “Almas Gêmeas” em 1994, com direção de Peter Jackson) e “Thirteen” (no Brasil lançado como “Aos Treze” em 2003, com direção de Catherine Hardwicke), que basicamente fala de duas meninas menores de idade pervertidas sexualmente, que praticam uma série de atrocidades ao longo do filme que deixam o espectador furioso.

 Não é só pelo fato de ser uma das primeiras obras desse clichê a povoar o cinema que coloca “Mais ne nous delivrez pas du mal” nesta lista, mas dois pontos bem específicos que são: a presença de um fortíssimo conteúdo blasfemo, onde as liturgias católicas são alvo de ataques e muito deboche ao longo do filme todo, e o fato das atrizes principais (que protagonizam inúmeras cenas sensuais e de nudez) serem realmente menores de idade quando a película foi filmada...

Blasfêmea, nudez de meninas menores de idade, violência, impunidade, egocentrismo, inconseqüência, desrespeito pela família... esse é mais um daqueles filmes que refletem do “espírito” que possuiu o cinema nos malditos anos 70.

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The Elephant Man – 1980


Esse é um dos filmes mais tristes que já assisti em toda minha vida. 

Trata-se da história real (e trágica) de Joseph Merrik (1862-1890). Um inglês que foi encontrado por um anatomista chamado Frederick Treves em um circo dos horrores em Londres, onde era exposto como atração e sofria maus tratos diariamente. 

Merrik era portador de uma doença muito rara chamada Neurofibromatose Múltipla, ou “Síndrome de Proteus” (somente diagnosticada em 1996, através de exames em seu esqueleto), e tinha 90% do seu corpo deformado.

O que aquele homem passou nas mãos de diversas pessoas (que eram os verdadeiros monstros da história) é revoltante.

A ignorância das pessoas, principalmente quando agrupadas em multidões, simplesmente não tem limites.

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Pixote - 1981


O diretor Hector Babenco produziu nesse trabalho um dos mais cruéis retratos da realidade nas ruas de São Paulo. 

Prostituição, drogas, crimes e muita violência permeiam a vida do personagem “Pixote”, um menino de rua que é enviado com outros companheiros para a FEBEM após ser recolhido pela polícia. Lá, Pixote sofre toda sorte de abusos, tanto por parte dos colegas internos quanto dos guardas e do diretor. Os diálogos são de partir o coração.

O mais terrível nesse filme são as semelhanças existentes entre a ficção e a realidade. 

O ator mirim que protagonizou o personagem principal, Fernando Ramos da Silva, após o sucesso do filme voltou às sua vida normal de miséria e violência. Tentou seguir a carreira como ator, inclusive ingressando na Rede Globo. Mas logo depois retornou à criminalidade e acabou sendo morto por policiais em 1987.

A rápida trajetória de Fernando foi contada pelo diretor José Joffily, em seu filme “Quem Matou Pixote?” no ano de 1996.

Um filme triste e chocante que tira o sono de quem tem um mínimo de empatia no coração.

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Irréversible (Irreversível) – 2002

Esse filme possui uma narrativa em ordem cronológica inversa (começa no final e termina com o começo da história) e utiliza os ângulos e rotações com a câmera para separar cada cena, o que causa uma sensação meio claustrofóbica muito desagradável nos espectadores. 

Mas isso é apenas um complemento do que esta produção francesa faz com você. 
 
Com um realismo absurdo, há duas cenas nesta obra em que se retratam respectivamente assassinato e estupro. 

Essas cenas fazem você sentir algo parecido com uma mistura de horror e culpa no peito. Realmente, só vendo pra entender o que quero dizer. 

Mas antes de correr para a locadora, tenha em mente que esse filme pode estragar o seu final de semana.

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Bum Fights – 2002

Esse é o nome de uma série de documentários que compilam o material de um site com o mesmo nome. Até o momento existem outras três sequências com material equivalente ou pior do que o primeiro.

É basicamente o seguinte: Sabe aqueles filhinhos de papai imbecis, completamente burros e débeis mentais que se divertem fazendo maldade com pessoas que estão em situações de fragilidade social? Pois é. É uma série de filmes que retrata alguns babacas se divertindo às custas de mendigos e moradores de rua.

Embora os autores americanos tentem manter um clima de “humor” o tempo todo, achar graça nesse material é rir das façanhas de certas pessoas aqui em terras brasileiras que queimam índios vivos por diversão, espancam empregadas domésticas em paradas de ônibus, machucam, humilham e matam calouros durante trotes de faculdade e arrastam uma cadela prenha com seu carro que papai deu no centro da cidade só para verem ela se despedaçar.
 

É revoltante, não há outra palavra para descrever o conteúdo deste título.

Violência, roubo de carros, marginalidade, uso de drogas injetáveis, crack, mutilação, tortura e abusos de todo tipo. Esse é o conteúdo de “Bum Fights”.

Um bom filme pra quem acha que a playboyzada é gente boa... principalmente os adeptos do american way of life.

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Earthlings - 2005

Dos filmes desta lista, esse eu acredito ser o único que deveria ser visto por mais pessoas. Porque traz uma nova consciência sobre algumas práticas que são de total desconhecimento do grande público, e se fossem mais divulgadas talvez as coisas fossem diferentes.

Trata-se de um documentário sobre a absoluta dependência da humanidade para obter alimentação, vestuário e diversão, através do “uso” de animais. Além das já polêmicas cobaias vivas, usadas para experimentos científicos.

É feito quase que totalmente com imagens de câmeras escondidas para detalhar as práticas diárias de algumas das maiores indústrias do mundo, onde se vê cenas reais de uma violência tão insana, perversa e covarde que se pode classificar de demoníaca sem correr o risco de cometer exageros.

É de fazer qualquer pessoa que tenha uma única gota de compaixão no corpo chorar. Eu desafio todos a assistirem esse filme até o final e depois olharem os animais com os mesmos olhos.

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Shortbus – 2006


Esse é o único filme desta lista que eu preciso admitir que assisti apressando algumas cenas, devido ao conteúdo ser, digamos... demasiadamente incômodo. 

O diretor John Cameron Mitchell disse em uma entrevista que Shortbus foi feito "com um grau de provocação em mente". Bem, o que ele quer dizer com “um grau de provocação” é que além do enredo tratar basicamente sobre relacionamentos gays (um tema por si só provocativo e polêmico), só se fala de sexo o tempo todo o filme inteiro. E ainda há um elemento extra, que são as diversas cenas de sexo explícito... daí você pode calcular o tamanho do problema.

Um filme nauseante que retrata a promiscuidade e a luxúria dos nossos tempos de uma forma tão chocante e asquerosa que nos faz perder um pouco a fé em dias melhores.

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Blindness (Ensaio Sobre a Cegueira) – 2008


A história deste filme é baseada no livro do mesmo título do escritor português vencedor do Prêmio Nobel de literatura José Saramago (1922 – 2010).

Trata de uma epidemia que se alastra com muita rapidez deixando as pessoas cegas sem nenhuma explicação aparente.

A única pessoa que não perde a visão é a esposa de um oftalmologista que finge estar cega também para acompanhar o seu marido quando as pessoas “infectadas” estão sendo levadas para a quarentena.

Dentro do lugar onde todos ficam “internados”, não há ninguém cuidando dos internos, apenas guardas armados do lado de fora que os impedem de sair.

O que acontece dentro daquele lugar, eu acredito que seja algo bem próximo do que a palavra “inferno” signifique. E nos faz pensar no quanto o ser humano pode ser uma criatura terrível quando não é adequadamente contido.




Cine Bomba - Edukators


Dicas periódicas do que NÃO ASSISTIR quando for à locadora!

Como todo bom cinéfilo, eu tenho um senso crítico muito apurado. E eventualmente a intuição para escolher o que assistir falha e me faz perder preciosos minutos assistindo verdadeiras bombas de estrume em forma de filmes.

Para que isso não aconteça com você, postarei aqui dicas do que não assistir quando for escolher a sua próxima produção.

Obviamente, como se trata de um texto que procura fazer com que as pessoas nao percam tempo assistindo obras ruins, o texto é composto basicamente de spoilers. Então, esteja avisado, caro leitor.

E no tópico de hoje, abrindo a série, já estreamos com uma produção alemã que é um verdadeiro pudim de chorume:




Informações Técnicas


Título no Brasil:  Edukators - Os Edukadores
Título Original:  Die Fetten Jahre sind vorbei / The Edukators
País de Origem:  Alemanha
Gênero:  Ação / Drama
Tempo de Duração: 127 minutos
Ano de Lançamento:  2004
Estúdio/Distrib.:  Video Filmes
Direção:  Hans Weingartner



Resumo do Filme

Jule, Peter e Jan são jovens rebeldes na faixa dos vinte anos com pouca ou nenhuma estrutura familiar, usuários de drogas, adeptos de um estilo de vida desregrado e com o auto-destrutivo hábito de buscar externamente os motivos de sua insatisfação pessoal. Culpando desde as pessoas mais abastadas financeiramente até o sistema de governo do seu país.

Jan é um jovem visivelmente agressivo e obcecado que divide um apartamento com seu aparentemente único amigo Peter, um garoto que gosta de ver a vida de maneira um pouco mais leve, seja fazendo sexo com sua namorada Jule ou roubando um relógio de luxo de algum cidadão descuidado ele sempre prefere sorrir, o que é a atitude oposta a do seu colega.

Movidos por uma revolta baseada na inveja e na ansiedade de canalizar sua frustração, Peter e Jan passam a se auto-intitularem “The Edukators” (algo como “Os Edukadores”) e se divertem invadindo e vandalizando de forma leve (apenas re-arranjando a posição dos móveis e objetos de decoração) as residências de pessoas com um padrão financeiro superior ao deles, usando como pretexto uma pseudo ação revolucionária.

Jule é a namorada de Peter que diz não gostar muito do seu amigo Jan.

Tempos atrás ela provocou um acidente de carro que danificou o automóvel de um rico empresário chamado Hardenberg (Burghart Klaubner) e como conseqüência acabou por adquirir um dívida enorme que lhe consome quase todo o dinheiro que ganha no seu emprego como garçonete em um restaurante caro, onde arranha os carros dos clientes que a tratam com arrogância.

Devido aos problemas financeiros Jule precisa sair de seu apartamento alugado e por isso precisa pintá-lo antes de entrega-lo. Seu namorado Peter, que a ajudaria na tarefa, precisa viajar para Barcelona e pede que seu amigo Jan ajude a moça em seu lugar.

Rapidamente Jan e Jule se tornam íntimos, e após mancharem as paredes com frases de protesto deixam o apartamento sem pinta-lo. Mais tarde vão jantar juntos na casa de Jan onde comem, usam drogas e conversam sobre como o mundo é injusto com eles. Jan fala com sua nova amiga sobre “Os Edukadores” e empolgada com a notícia, Jule insiste que ela e Jan invadam a casa de Hardenberg, o empresário que a processou por danificar seu carro. Após uma certa resistência, Jan concorda.

Eles então invadem casa do empresário usando máscaras e fazem a tradicional bagunça de móveis. Só que Jule se deixa levar pela emoção e decide ir além, convencendo a Jan a jogar o sofá da sala na piscina, e os dois fazem isso e acabam caindo na água juntos. Jan então se aproxima da namorada do seu melhor amigo e a beija. Na cena seguinte, Jule está usando roupão e quebrando algumas garrafas na cozinha da casa invadida. Quando então se ouve um alarme disparar e os latidos de cachorros.

Os dois fogem e parecem se divertir muito com o que aconteceu, e acabam dormindo juntos.

Quando Peter volta de sua viagem, nem percebe o clima que há entre seu amigo e a sua namorada, baseado na confiança que tem nos dois.

É quando Jule revela a Jan que esqueceu o seu telefone celular na casa que vandalizaram, e sem que Peter saiba, os dois combinam de voltar lá e recuperarem o aparelho. E o fazem. Mas quando estão novamente na propriedade de Hardenberg, ele chega da uma longa viagem em que dirigiu por 700Km justamente no momento em que eles estão lá.

Quando se depara com Jule em sua sala, ele tenta segura-la e acaba sendo golpeado pelas costas por Jan e desamaia. Sem saberem o que fazer, eles pedem ajuda a Peter, que embora surpreso, ajuda os dois a amarrarem, amordaçarem e seqüestrarem o empresário, levando-o para uma cabana isolada nas montanhas onde passam alguns dias gastando o dinheiro de Hardenberg para comprar mantimentos, usando drogas e tendo conversas com teor pseudo-político.

Enquanto Jan e Jule alimentam um romance secreto aos olhos de Peter fazendo sexo escondidos sempre que podem, Hardenberg como empresário e ex-militante de esquerda conhecedor dos mecanismos mentais que guiam seus carcereiros, usa sua experiência e inteligência para ganhar confiança e manipular os jovens, que portam uma arma (uma arma que Peter diz ser falsa, mas que Hardenberg acha que é real) e deixam dúvidas sobre o que irão fazer com ele.

Com o passar dos dias, Hardenberg se torna cada vez mais próximo dos jovens e consegue causar um atrito entre Jan e Peter, revelando de forma sutil a Peter o caso que sua namorada está tendo com seu melhor amigo.

Depois de ser agredido, seqüestrado e de passar vários dias em um lugar isolado sob a mira de uma arma, os jovens finalmente libertam o empresário, que ao entrar em casa apenas se senta no sofá e fica pensativo. Enquanto uma cena mostra Peter, Jule e Jan deitados numa mesma cama.

Quando Hardenberg aciona a polícia contra os criminosos, estes já haviam se precavido e já estão foragidos. Aparecem então roubando um barco no cais e indo em direção a uma ilha onde se encontram as antenas de transmissão das emissoras de TV, cuja sabotagem e destruição é o seu novo alvo.


Opinião pessoal sobre o filme:

Tecnicamente, considero o filme muito ruim. Em primeiro lugar pelo roteiro muito cheio de clichês e pobre de criatividade. Em segundo lugar por ter uma trilha sonora péssima (não pela qualidade da músicas em si, mas pela maneira como foram usadas na construção das cenas) e em terceiro e último lugar, por fazer explicitamente apologia ao terrorismo, ao uso de drogas e há criminalidade.

No que diz respeito a uma avaliação geral da obra, o que mais chamou minha atenção enquanto assistia ao filme The Edukators, foi a simplicidade com que foram retratados os crimes cometidos pelos três jovens. O diretor Hans Weingartner claramente tenta passar uma mensagem aos jovens que dizem que eles tem razão em culpar o mundo por suas mágoas e suas frustrações, e que tem o direito de descontar toda essa revolta em outras pessoas que conseguem levar a vida de uma forma mais plena e equilibrada do que eles. Considero essa uma mensagem muito perigosa de se transmitir hoje em dia, enquanto vivemos em um mundo que cada vez mais se distancia da moral de dos bons costumes. Onde os valores estão invertidos e se confunde libertinagem com liberdade.

Durante todo o desenrolar da história, várias seqüências tentam mostrar uma certa superioridade intelectual dos jovens criminosos sobre o pobre homem seqüestrado, o que com um olhar mais atento, se revela um gigantesco equívoco. Já que o empresário conseguiu sair vivo e bem de situação em que provavelmente acabaria morto.

O final da história não demonstra nada além de impunidade e alienação. A única parte do filme que, na minha opinião, se aproxima da realidade e tem algum valor. A obra como um todo pode ser vista como um retrato do que a falta de estrutura familiar, a falta de ensino qualificado e total alienação política e histórica podem fazer com mentes jovens e cheias de energia potencial mal trabalhada. E o quanto o nosso sistema político é falho em permitir que ainda existam tais perigos rondando nossas casas, sobretudo as casas das pessoas que cometeram o incrível erro de prosperarem em um mundo que aprendeu a embelezar o sofrimento. É movido por esse espírito de pseudo-liberdade que vemos vídeos de decapitações de soldados e jornalistas no oriente médio, que vemos estrangeiros sendo espancados e mutilados em países europeus, que vemos nossos jovens cada vez mais promíscuos, envolvidos em crimes e usando drogas, foi com essa insanidade que erroneamente os menos informados chamam de liberdade que Ernesto Guevara executou pessoalmente mais de 400 pessoas e seu amigo Fidel se mantêm no poder depois de ser responsável diretamente por mais de 115.000 mortes e outros tantos desaparecidos desde 1959.

A idéia de “liberdade” que Peter e Jan dizem defender no filme The Edukators não passa de uma visão distorcida da realidade confeccionada por uma mente perturbada e desprovida de bom senso.

A Odisséia do Cinema Brasileiro


 Eu nunca estudei cinema mais do que através da leitura de um ou outro livro sobre o tema, e assistindo algum documentário. Por isso, reconheço que não sou uma autoridade e ao escrever sobre esse assunto eu corro sérios riscos de cometer erros e gafes. Mas, entretanto, apesar do meu limitado conhecimento sobre esse assunto, eu estou realmente cansado de ouvir barbaridades da boca de conhecidos que são leigos demais para saberem o tamanho dos absurdos que estão dizendo, e também, cansado de me irritar com o preconceito que vejo declarado em centenas de páginas na internet sobre o cinema brasileiro. Por isso, resolvi produzir este artigo no qual contarei um pouco sobre a história do cinema nacional, juntando informações que acumulei ao longo de muitos anos de "Cinefilia".

Faço isso na esperança que no futuro, a ignorância das pessoas seja substituída por respeito e interesse a respeito das produções nacionais.

Naturalmente que em boa parte eu culpo as mídias de massa por esse incrível equívoco, mas também preciso admitir que mesmo que as mídias de massa fossem mais felizes em suas apresentações, ainda assim haveriam muitas pessoas que se negariam a olhar pra nossas produções com olhos respeitosos e orgulhosos. Provavelmente por puro despeito ou burrice mesmo.

Seja como for, espero que esse material simples e de pouca profundidade seja útil para iluminar um pouco sobre nossa história aos menos informados e preconceituosos de plantão.


O Alvorecer

Cinematógrafo
O meio de expressão de maior impacto do século XX sem sombra de dúvida foi cinematógrafo

Aparelho que foi inventado em 1895 pelos irmãos Lumière (originalmente com intenção de uso científico) e que permitia registar uma série de fotografias em alta velocidade, fotos essas que depois eram reproduzidas em série através de uma projeção luminosa onde as imagens eram visualizadas em uma tela, o que criava a ilusão de movimento

O primeiro cinematógrafo chegou ao Brasil pelas mãos de Paschoal Segretto, um imigrante italiano cuja vida pessoal não vem ao caso, que filmou cenas do porto do Rio de Janeiro, tornou-se nosso primeiro cineasta.

Bem, partindo bem do princípio, vamos começar nossa “viagem” no dia 08 de julho de 1896, na cidade do Rio de Janeiro, onde e quando ocorreu a primeira sessão de cinema feita em terras Tupiniquins.

Essa data chama atenção logo de cara por marcar esse importante evento, mas também por ter ocorrido apenas sete meses depois da histórica exibição dos filmes dos irmãos Lumière em Paris. Ou seja, o Brasil fazia parte do seleto grupo de países que viu naquela invenção luminosa algo realmente importante. Se pensarmos no quanto são defasadas as tecnologias que chegam às nossas mãos hoje em dia provenientes de outros países, dá pra ter uma idéia do quão significativo é esse curto espaço de tempo.

Bem, mas apesar da importância desta ocasião, houveram muitas falhas e desagradáveis imprevistos que comprometeram o sucesso do evento. Falhas essas que ocorreram por vários motivos, sejam técnicos (causados pelo abastecimento de energia elétrica Brasileiro, que na época era bastante precário) ou simplesmente causados pela inexperiência em lidar com esse tipo novo de espetáculo.

Paschoal Segreto
Bem, aproximadamente um ano depois, em 31 de julho de 1897, surge a primeira sala fixa de cinema, chamada de “Salão de Novidades Paris", cujos proprietários eram Paschoal Segreto (que posteriormente foi também quem primeiro trouxe uma câmera de filmagem de uma de suas viagens, e começou a registrar acontecimentos políticos e populares no RJ, além de muitas outras coisas, o que culminou com uma grande aceitação pública e o fez montar seu próprio laboratório), e José Roberto Cunha Sales (outro cidadão cuja vida pessoal também não vem ao caso).

O sucesso das seções de cinema foi tamanho, que começaram a ser enviados emissários para exterior, com a missão exclusiva de buscar de novas visões e idéias para enriquecer e fortalecer esse novo entretenimento que se tornou rapidamente uma febre na sociedade.

Houve uma verdadeira explosão cinematográfica”, onde se percebia um estase por parte dos produtores e dos consumidores dessa novidade.

Um frenesi que tomou conta da imprensa, e ocupava espaços em todos os meios de comunicação. Diversos casos reais que chocavam a sociedade, como crimes e tragédias de grande impacto social, geraram filmes que causavam verdadeiras superlotações a cada seção.

Em 1907 foi inaugurada a usina hidrelétrica de Ribeirão das Lages. Com isso, a distribuição de energia melhoraria consideravelmente já se encaminha a inauguração de outros 20 cinematógrafos fixos, todos com imensa ansiedade e expectativa.

Os anos compreendidos entre 1908 e 1911 ficaram conhecidos como a idade de ouro do cinema nacional.

 No Rio de Janeiro, formou-se um centro de produção de curtas, onde além dos muito populares filmes com temática policial (versões para a telona de crimes reais), foram desenvolvidos vários gêneros de filmes como melodramas tradicionais ("A cabana do Pai Tomás"), dramas históricos ("A república portuguesa"), patrióticos ("A vida do barão do Rio Branco"), religiosos ("Os milagres de Nossa Senhora da Penha"), carnavalescos ("Pela vitória dos clubes") e comédias ("Pega na chaleira" e "As aventuras de Zé Caipora"). A maior parte realizada por Antônio Leal e José Labanca, na Photo Cinematographia Brasileira.

Com isso, a criatividade começa a expandir seus horizontes e surgem cada vez mais gêneros de filmes nacionais. O que para o público era um deleite muito grande.

   Foi nessa época que surgiu a primeira comédia, intitulada  "Nhô Anastácio chegou de viagem” que além de ser a primeira obra nacional do gênero, também foi a primeira a sofrer censura (uma cena de estrangulamento que reteve o filme por alguns meses e fez dele um sucesso total quando liberado e também estimulou outros filmes baseados em crimes como o "A mala sinistra" de Ferres e "O crime da mala" de Alberto Botelho, ambos sobre um mesmo crime que chocou a população da época, quando um homem havia sido esquartejado e levado para Santos em uma mala) e que já dava uma visão bem promissora do que estava por vir (Leal exercitou quase todos os gêneros de filmes, com títulos como "Noivado de sangue", "Amor e piche", "O nono mandamento", "Aqui não! Não pode!, etc).

Rapidamente, a produtora carioca "Photo Cinematographia Brasileira" de José Labanca e Antônio Leal tornou-se a maior e mais forte da época.

 Isso tudo numa longínqua era em que o cinema era mudoapenas imagens contavam as histórias para a platéiae arriscam alguns especialistas que nessa época as emoções passadas aos telespectadores eram muito mais fiéis às intenções dos autores...


O Massacre

Os primeiros filmes com áudio do Brasil foram musicais, e só começaram a surgir em 1909, quando principalmente Labanca e Leal (mas não apenas eles) começam e explorar uma técnica de apresentação em que se escondiam atrás da tela alguns cantores e atores que falavam e cantavam de acordo com a cena. Essa sonorização rudimentar foi utilizada e muito popularizada em filmes como "O guarani", "Barcelona", entre muitos outros. Um tempo depois Leal rompeu com a grande produtora e criou uma empresa própria.

Nessa época áurea, precisamos dar algum destaque especial para o filme "Paz e amor", que causou um verdadeiro estrondo no público brasileiro, atingindo um sucesso até então desconhecido, chegando a bater todos os recordes de qualquer filme nacional ou estrangeiro da época.

Em 1911 começa a "americanização" do cinema brasileiro, com o RJ sendo invadido por uma grande quantidade de filmes estrangeiros. O que prejudicou severamente o desenvolvimento das produções nacionais.

Em decorrência disso, muitos profissionais da área cinematográfica migraram para atividades comercialmente mais viáveis, abandonando o cinema em definitivo, enquanto outros sobreviveram fazendo "cinema de cavação" (documentários sob encomenda).

Nesse cenário desértico para os cineastas brasileiros, houveram algumas manifestações pontuais e isoladas como o trabalho de Luiz de Barros ("Perdida")  no Rio de Janeiro e José Medina ("Exemplo Regenerador"), em São Paulo. Mas isso não amenizava o estrago. No Rio Grande do Sul, na cidade de Pelotas, Francisco Santos ("O crime dos banhados") chegou a conseguir uma boa repercussão local com os trabalhos de seu estúdio próprio, mas por pouco tempo.

Luiz de Barros
O destaque quase heróico com certeza pertence à Luiz de Barros, que começou sua carreira em 1914 e se prolongou até a década de 70, e produziu entre 1915 e 1920 nada menos do que 10 grandes sucessos como "A viuvinha", "Iracema" e "Ubirajara", "Coração de Gaúcho" e "Jóia Maldita", entre muitos outros.

Com o tempo, Barros se especializou em filmes baratos e populares, dos mais diversos gêneros, sobretudo da comédia musical. Foi responsável também, anos depois pelo primeiro filme nacional inteiramente sonorizado, que se chamou "Acabaram-se os otários".

A primeira grande guerra mundial, foi um dos conflitos que mais gerou filmes no Brasil. O número de trabalhos com essa referência na época (1914 – 1918) é muito grande em comparação ao anos anteriores. A partir de 1915 é produzido um grande número de fitas inspiradas na literatura brasileira, como "Inocência", "A Moreninha" e "Iracema" (o italiano Vittorio Capellaro é o cineasta que mais se dedica a essa temática, dos quais se ressaltam "Pátria e bandeira", escrito por Cláudio de Souza e que falava sobre a espionagem alemã em território nacional, e o primeiro desenho animado chamado "O Kaiser" de autoria do cartunista Seth, que satirizava o mandatário alemão e perfilava junto aos nacionalistas brasileuiros que pregavam o alistamento militar obrigatório).

Em 1923, Eugênio Kerrigan ganha prestígio com o drama regional "João da Mata", que tratava de um conflito de posse entre um pequeno agricultor e um coronel.

Então, com o surgimento do cinema 100% falado em Hollywood nos Estados Unidos, por volta de 1930, a produção de filmes no Brasil, que já enfrentava uma retração do público por conta dos recursos técnicoultrapassadas (como os letreiros sobrepostos por exemplo) novamente se complicou e a decadência avançou mais um pouco.

Nessa época de grave crise, o filme "Ganga Bruta" de Humberto Mauro acabou sendo uma das mais valiosas fontes de alimentação dos cineastas brasileiros que iniciaram suas carreiras por volta da década de 50.

Também do início da década de 30, dois filmes que foram muito importantes e representativos foram  o vanguardista "Limite" de Mário Peixoto, que produziu a obra influenciado pelo cinema europeu, e a produção que mais rendeu lucro na época, intitulada "Coisas nossas" de Wallace Downey, título do célebre samba de Noel Rosa, que foi a primeira tentativa de enveredar na direção dos filmes musicais americanos que estavam causando um verdadeiro furor.

Mas o declínio continuou cada vez mais violento: no ano de 1934, simplesmente nenhum filme foi produzido no Brasil.

A situação era tão difícil que somente alguns curta metragens (que fizeram aparecer Byington Gonzaga, Carmem Santos) tinham alguma aceitação razoável, mas foi por pouco tempo (a censura da época também contribuiu veementemente para isso).

Carmen Miranda
Nessa época, um das pessoas símbolos do nosso país, Carmen Miranda, é "importada" para os Estados Unidos, dado seu incrível talento. Mas não sem antes deixar a célebre frase que foi publicada em diversos jornais: "Um pouco de matéria prima brasileira para o cinema americano".

Aliás, essa lindíssima mulher tem tamanha importância para o país nessa época, que me absterei de tecer comentários e relatos por agora. Pois pretendo produzir um artigo exclusivo sobre ela em breve.

 cinema nacional na década de 30 sofreu um massacre tão violento por causa da influência de Hollywood que quase desapareceu. Pessoalmente eu acredito que isso tenha acontecido intencionalmente, por conta do governo americano que já via nesse mercado um grande futuro e investia de forma tão massiva que os produtores menores se viam incapacitados de concorrer.

Foram tempos muito severos em que nossa cultura sofreu perdas irreparáveis.


Juntando os pedaços

Somente a partir de 1940, pode-se finalmente dizer que a força começava a voltar, embora os 70 filmes que haviam sido produzidos somente tenham começado a aparecer em 1943.

Com o início da segunda grande guerra mundial, começam a faltar muitos materiais básicos para as produções, dentro dos quais até mesmo as fitas virgens começaram a ficar escassas.

Em meio e todo esse tortuoso caminho, São Paulo se firma como a capital econômica do país, o que coopera para que na década 40 seja considerada a capital cultural do Brasil, na qual é construído o "museu de arte moderna". Isso gerou uma animação geral, o que fez com que um número maior de pessoas se interessasse pelo cinema brasileiro. Surgindo então a primeira associação de produtores cinematográficos e o primeiro sindicato dos técnicos de cinema. Que foram organizadas com a ajuda de Getulio Vargas que se envolveu em ocasiões importantes e em diversas manifestações.

Nessa fase, as pessoas que riram do cinema brasileiro agora estavam rindo com o cinema brasileiro (surgem as primeiras chanchadas).

Em meio e essa retomada da cultura, há uma certa centralização dos assuntos nos materiais produzidos. O que provoca uma reação de descontentamento no público, já que o assunto "carnaval" já estava saturado e ninguém agüentava mais.

Apesar de tudo, é correto afirmar que o cinema brasileiro "tirou as fraldas" nesse período, no qual também surgiu o primeiro perfeito estúdio de cinema, o da Companhia Cinédia no Rio de Janeiro.

Em 1941 é criada a Atlântida, que centraliza a produção das chanchadas cariocas.

A reação paulista acontece mais tarde com o ambicioso estúdio da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo (1949). Renegando a chanchada, contrata técnicos estrangeiros e ambiciona produções mais aprimoradas, como: "Floradas na serra", do italiano Luciano Salce, "Tico-tico no fubá", de Adolfo Celli, e "O canto do mar", de Alberto Cavalcanti, que volta da Europa para dirigir a Vera Cruz. "O cangaceiro" (1953), de Lima Barreto, faz sucesso internacional, iniciando o ciclo de filmes sobre cangaço e que ficou conhecido por ter sido vendido ao Columbia Pictures.

Mazzaropi
Amácio Mazzaropi é um dos grandes salários da companhia, vivendo o personagem caipira mais bem-sucedido do cinema nacional. A ausência de um esquema viável de distribuição foi principal causa do fracasso da Vera Cruz, além da altíssima manutenção e da falta de apoio por parte do governo (o que sem dúvida não acontecia nos Estados Unidos).

Nessa época também, surgiram os primeiros trabalhos do paulista José Mojica Marins, que ao contrário do que muitos pensam, não era um cineasta limitado ao gênero "terror". Embora seus trabalhos mais reconhecidos mundialmente sejam desse estilo.
José Mojica Marins como "Zé do Caixão"

Da mesma forma que Carmen Miranda, eu vejo nesse homem excêntrico que produzia e atuava, uma importância muito especial para a cultra nacional, e também reservo a ele um post exclusivo, por isso, no momento me limitarei a apenas citar sua participação no contexto histórico (jamais poderia deixar de citá-lo).

Os anos 50 foram bem engajados, com diversas tentativas de reforço ao novimento, mas todas fracassadas. Se destacam nessa época "Presença de Anita" de Mário Donato e "O comprador de fazendas" baseado na obra de Monteiro Lobato.

Carlos Roberto de Souza (autor do livro “A Fascinante Aventura do Cinema Brasileiro” de 1981) nos conta que em 1954 a Vera Cruz fechou as portas e a Atlântida (Fundada em 1941 por Moacir Fenelon, Alinor Azevedo e José Carlos Burle) seguiu em frente, dando-se até ao luxo de bancar projetos mais pretensiosos como "Amei um Bicheiro" (1953), de Jorge Illeli e Paulo Wanderley, thriller urbano à moda americana, decalcado no clássico de John Huston, O "Segredo das Jóias". Erich Von Stroheim e Abel Gance realizam o primeiro festival internacional de cinema.

Então, eis que surge o filme "Rio 40 graus" de Nelson P. dos Santos. Um filme popular, que "mostrava o povo ao povo". Suas idéias eram claras e sua linguagem simples dava uma visão do Distrito Federal. Sentia-se pela primeira vez no cinema brasileiro o desprezo pela retórica. O filme foi realizado com um orçamento mínimo e ambientado em cenários naturais. Obviamente, foi censurado. Mas em função de uma enorme campanha de estudantes que teve grande repercussão foi liberado.

Esse filme marcou o início no neorealismo, que teve no filme "Rio 40 graus" o seu primeiro fruto. Em São Paulo, começam a aparecer comédias baseadas nos costumes e no cotidiano, nos quais se destacam os trabalhos de Roberto de Santos que só foi realizar um novo longa depois de 1965.

Era já então nascido, o dito "cinema novo". Que tinha a liberdade como motor e buscava novos formatos.

Os jovens começam a deixar de lado o cinema de nível, e usar uma linguagem cinematográfica bem mais arrojada e liberal, como afirmava Glauber Rocha: "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça." Temas como sertão, favelas, subúrbio, vilas, litoral e estádios de futebol começaram a ser utilizados, rompendo os padrões estabelecidos.

A essa altura, temos uma firme impressão de que o cinema brasileiro já tinha um estilo próprio, deixando de lado (a pau e corda) o estilo americano de filmagem que tinha virado quase que um código de regras.

Os ânimos continuaram sendo intensos até o chamado "movimento de 60", quando então as temáticas que eram a principal diferença entre o que era feio antes e o que vinha sendo feito naquele momento, começam a se transformar. Mas de forma alguma o cinema novo morre, muito pelo contrário.

Na década de 60 as telas foram contagiadas por um clima de envolvimento com a realidade social e cultural do país. Exemplos de obras produzidas nessa época são "O cangaceiro", "A morte comanda o cangaço" e "Lampião, o rei do cangaço" que ficaram conhecidos mundialmente.

Nos anos 70, surge o CONCINE (Conselho Nacional de Cinema) que tem função legisladora e concede aos filmes os certificados de produto brasileiro, permitindo que ocupem o espaço reservado ao cinema brasileiro nos cinemas (cerca de pelo menos um terço das exibições feitas durante o ano) e a EMBRAFILMES (Empresa Brasileira de Filmes SA), que estimula as produções fazendo financiamentos, empréstimos e distribuindo as obras no Brasil e no exterior (o mérito de muitas adaptações de romances brasileiros consagrados, e a reconstituição de acontecimentos importantes da história brasileira pertence sem dúvida à essa instituição).

Cartaz de "A Dama do Lotação" de 1976
Em uma palavra, o CONCINE e a EMBRAFILMES aumentaram generosamente o fôlego das criações e dos investimentos. A tumultuada década de 70 teve como principal atrativo em suas obras o erotismo. Imagem que na minha opinião ainda nos tempos de hoje permanece sobre as gerações mais novas no que diz respeito às produções nacionais e é a responsável por tudo que se fala de ruim a respeito do cinema brasileiro.

Pense bem, no único momento da história do país em que a produção cinematográfica realmente começa a receber apoio, é quando a tendência está apontada para produções eróticas. Tire suas próprias conclusões.

Cena do Filme "Pink Flamingos"
Só não esqueça de que os anos 70 foram marcados por produções bizarras no mundo todo. 

Quem fala dos filmes brasileiros desta época e os utiliza como exemplo para falar do quanto nossas produções eram ruins e “baixas”, com certeza nunca assistiu à filmes estrangeiros que eram contemporâneos a eles, como por exemplo “Pink Flamingos” dos EUA, “Saló” da Itália ou “Mais Ne Nous Deliverez Pas du Mal” da França, que fazem (mesmo hoje em dia) as produções do setor de pornografia parecerem verdadeiramente aulas de catecismo.

O cinema dos anos 70 estava tendenciado à retratar sexo, libertinagem, baixaria, submundo, drogas... e uma série de outras coisas  desse tipo. E isso era uma tendência mundial (os motivos para isso também poderiam servir para um outro tópico, se esse fosse um blog que fala sobre política).

 Mas nem tudo são fezes nessa época. Tivemos produções clássicas como "O cortiço" e "Iracema" que ressurgiram, e não posso deixar de citar o importante fator do fortalecimento dos "cineclubes" (organizações sem fins lucrativos que existiam desde os anos 20 e estimulavam os seus membros a ver, discutir e refletir sobre o cinema.) que foi um importante componente no mundo cinematográfico, sobretudo com o envolvimento do estado no mercado.

O poderio era tanto, que através do CONCINE, se conquistou a lei de que todo filme estrangeiro deveria antes de sua exibição, passar curta metragens brasileiros. Enfim, estava novamente encaminhada a vida do cinema brasileiro.

Não é errado dizer que o cinema no Brasil ainda conserva algum estilo próprio, apesar das muitas influências que sofreu e sofre. E uma olhada por sua trajetória histórica nos faz ter uma idéia bem ilustrada de como isso caminhou até o presente momento.

Vivemos nos últimos anos uma boa fase para as produções nacionais, embora nunca mais tenhamos conseguido chegar perto do que poderíamos ter alcançado se no passado algumas políticas fossem diferentes. 

Eu admito que a grande maioria das obras que citei nesse artigo, eu nunca consegui assistir. E isso é muito grave. As produções que tive acesso, foram literalmente "garimpadas" em diversas fontes e arquivos. O que me faz pensar que se eu, que nutro uma sincera paixão pelo cinema (paixão essa que por pouco não beira a obceção) tenho sérias dificuldades em conseguir assistir às obras mais antigas do meu país, o que esperar das pessoas que não compartilham deste sentimento comigo?

Eu pelo menos sei os nomes do que quero assistir... já a quase totalidade do nosso povo sequer sabe que esse material existe.

A nossa responsabilidade como cidadãos de manter o patrimônio de sua cultura causa um certo desconforto, pois nos deixa com a sensação de impotência e de que no futuro poucas são as chances de se descobrir mais sobre o nosso passado. Mas de forma alguma podemos ser negligentes.

Da próxima vez que você for falar mal do cinema nacional, pense bem se você tem realmente embasamento para criticar da forma como critica.

Para encerrar, eu gostaria de transcrever duas citações que acredito ilustrarem bem o espírito desta postagem:

" Não existe poder cultural sem poder econômico e político e a conquista de tais poderes é única e complexa" – Glauber Rocha

"Conhecemos pouquíssimo a história do cinema brasileiro. Conhecemos menos ainda os filmes. O descuido que manifestamos em relação a nosso passado – não apenas em termos de cinema -  também é reflexo de nosso subdesenvolvimento cultural e já nos suprime quase toda a possibilidade de estudarmos os filmes brasileiros antigos. Os poucos que restam talvez venham a desaparecer , como talvez venha desaparecer toda a produção atual e futura, se não tomarmos aos cuidados que exigem a preservação da película cinematográfica. As providencias que estão sendo tomadas para a restauração e a conservação dos filmes são lentas, inversamente, a decomposição destes filmes é rapidísima." 
 - Carlos Roberto de Souza


Referências:

SOUZA, Carlos Roberto de. A fascinante aventura do cinema brasileiro. São Paulo: Cinemateca Brasileira, 1981.
AVELAR, José Carlos Avelar. O cinema dilacerado. Rio de Janeiro: Alhambra, 1986.
BARROS, Luiz de. Minhas memórias de cineasta. Rio de Janeiro: Artenova/Embrafilme, 1978.
RAMOS, Fernão (org.). História do cinema brasileiro. Art Editora, São Paulo, 1987.


Internet:
http://www.atlantidacinematografica.com.br/ (acessado em 18/04/2011); 
http://www.cinemateca.com.br/ (acessado em 18/04/2011);